“As novas formas de criação vão sem dúvida emergir” - João dos Santos, diretor da ESAD.CR

13 outubro 2022 - Óbidos Parque

Os algoritmos, o erro, o papel das ferramentas digitais nos processos de criação e a importância da tecnologia para os criadores, dominaram os temas da Mesa POD - Plataforma de Ofícios Digitais, a primeira mesa do FOLIO Tec (uma das novidades da edição deste ano do FOLIO - Festival Literário Internacional de Óbidos), e que decorreu na manhã de terça-feira, 11, no Museu Abílio de Mattos e Silva.

Numa conversa subordinada ao tema “Algoritmos e formas literárias - Novas formas de criação”, e que juntou à mesma mesa professores da Escola Superior de Artes e Design de Caldas da Rainha (ESAD.CR) de diversas áreas criativas, João dos Santos, diretor da instituição, afirmou estarmos a viver numa sociedade "organizada com um algoritmo, ou com um conjunto de algoritmos”. “As novas formas de criação vão sem dúvida emergir - de uma forma mais suave, mais acelerada ou mais imposta - pelo que teremos de formar recorrendo a outras formas. O modelo de crescimento é que deve ser questionado”.

Sobre esta questão, Pedro Vieira Moura, docente e criativo focado nas áreas da ilustração, BD, criação de guiões, argumentos e outros, defendeu que os algoritmos “não são inúteis”, mas que há que saber utilizá-los.

“Ao escolhermos uma tecnologia, estamos a afunilar as possibilidades de criação”. “No algoritmo, se eu não souber dar as instruções certas, ele não funciona, deita-se fora”, o que contrasta com a “capacidade humana do improviso, de dar a volta a uma situação”. “O computador não tem a capacidade de responder ao erro”.

A nível criativo, “não creio que fiquemos obsoletos” perante a tecnologia, disse o também docente Hélio Oliveira. “A Inteligência Artificial (IA) e os algoritmos não estão perto sequer de se transformarem em criativos ou criadores. As ferramentas ajudam (ao processo). Mas no mundo das artes em geral, não vamos ficar obsoletos. A palavra e a escrita não vão ser substituídos”.

O papel da escola

Perante uma audiência composta por cerca de duas dezenas de alunos, João dos Santos questionou a mesa sobre qual deverá ser o papel da escola (no caso, de uma escola de artes) quando os algoritmos criam a “ideia de que iremos ser dispensados do universo da criação”.

Para Hélio Oliveira, o papel dos professores é “ambíguo”. Nas artes visuais a missão acaba por ser, essencialmente, “passar a cultura normal e dar aos alunos as ferramentas para que possam, eles mesmos, construir o seu caminho”.

Na mesma linha, Pedro Vieira Moura entende que a função da escola é a de “abandonar a preocupação de formar funcionários para formar cidadãos, pessoas com informação, que sejam capazes de encontrar ‘o lugar da fala de cada um’, e que possam criar verdadeiras comunidades”.


Sobre o FOLIO Tec

O FOLIO Tec foi uma das novidades da edição deste ano do FOLIO - Festival Literário Internacional de Óbidos, e surgiu com a curadoria do Óbidos Parque - Parque Tecnológico de Óbidos. Fez parte do capítulo Folio Educa, e pretendeu refletir a ligação da tecnologia à literatura.

“Sendo a tecnologia digital parte integrante do nosso mundo, assumimos a transitoriedade do nosso papel enquanto organizadores de um capítulo dedicado à tecnologia. Queremos que conheçam um outro lado de Óbidos. Um lado binário, de uns e zeros, de algoritmos e capacidade de computação. Em Óbidos há um parque tecnológico e uma nuvem de mentes e soluções que se quer abrir à Cultura, porque gostamos do lado criativo e potencialmente libertador que a tecnologia possui”, afirma Miguel Silvestre, diretor executivo do Óbidos Parque.


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