​“Um algoritmo não pode nunca ser considerado um autor”

13 outubro 2022 - Óbidos Parque

“O que é que os algoritmos conseguem reproduzir em termos literários” foi a questão lançada ao professor Pedro D’Alte por Miguel Silvestre, diretor do Óbidos Parque, e que serviu de mote para o arranque da segunda mesa FOLIO Tec subordinada ao tema “Inteligência Artificial e Poesia”, que decorreu terça-feira, 11 de outubro.

Num diálogo sobre a criação artificial, Pedro D’Alte, professor de Literatura em Macau e com percurso na área da Tecnologia, recuou ao surgimento dos robôs que, “de um carater performativo, passaram, na década de 80, para a esfera da interatividade”. “Houve uma evolução quanto àquilo que se esperava. Deixaram de ser passivos. Nessa altura, percebemos que podem aparecer outras dinâmicas que anteriormente não tínhamos considerado”. Depois, “começou a entrar em cena a Inteligência Artificial (IA) que, pela primeira vez, tem a capacidade de aprender, se lhe dermos algum input”.

“O sistema linguístico é o garante de qualquer aplicação, neste momento”, disse Pedro D’Alte, para explicar a convergência entre as várias unidades da língua e a dimensão tecnológica. Já no que respeita às fronteiras entre a Literatura, a Cultura e a IA, Pedro D’Alte salientou que “o humano, a manter-se humano, será em última instância o grande consumidor de Cultura”. “Um algoritmo dificilmente terá essa capacidade e consciência”. Na sua opinião, “um algoritmo, conforme está desenhado, em termos de teoria literária e aos ‘olhos’ da teoria literária, não pode nunca ser considerado um autor”.

“A Literatura é um ‘conceito’ cuja definição é impossível de ser feita porque se considera um conceito ‘em trânsito’, ou seja, depende do leitor e do contexto da interpretação”, salientou. Nessa medida, “as potencialidades gerativas dos algoritmos, aos ‘olhos’ da Literatura, não estão muito trabalhadas. Há muitos debates ainda por fazer”.


Sobre o FOLIO Tec

O FOLIO Tec foi uma das novidades da edição deste ano do FOLIO - Festival Literário Internacional de Óbidos, e surgiu com a curadoria do Óbidos Parque - Parque Tecnológico de Óbidos. Fez parte do capítulo Folio Educa, e foi lançado com o objetivo de refletir a ligação da tecnologia à literatura.

“Sendo a tecnologia digital parte integrante do nosso mundo, assumimos a transitoriedade do nosso papel enquanto organizadores de um capítulo dedicado à tecnologia. Queremos que conheçam um outro lado de Óbidos”, afirma Miguel Silvestre.

“Um lado binário, de uns e zeros, de algoritmos e capacidade de computação. Em Óbidos há um parque tecnológico e uma nuvem de mentes e soluções que se quer abrir à Cultura, porque gostamos do lado criativo e potencialmente libertador que a tecnologia possui”.


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